Cheguei em casa, e me dei conta: hoje fazem 14 anos que perdi minha mãe.
14 anos.
168 meses.
5.110 dias.
Não vou nem calcular as horas, não tenho régua para medir o tamanho desse abismo que se alarga com o tempo e torna cada vez mais distante o último dia que te vi na Terra.
168 meses.
5.110 dias.
Não vou nem calcular as horas, não tenho régua para medir o tamanho desse abismo que se alarga com o tempo e torna cada vez mais distante o último dia que te vi na Terra.
5 estádios de futebol lotados.
8467314 hectares de uma fazenda no Nordeste.
Um Romeo Beckham inteiro.
3 voltas ao redor do mundo e 1,5 viagem à Lua.
3 faculdades e 1 mestrado.
Incontáveis namorados.
2 matrículas no Município, 1 exoneração.
9 empregos.
836527488958727262 dúvidas.
0 certezas.
1 vida adulta inteira.
Me faltam medidas, termos leigos, não consigo fazer aproximações, mas o tempo me diz que passei os últimos 14 fucking anos sem você, mãe.
8467314 hectares de uma fazenda no Nordeste.
Um Romeo Beckham inteiro.
3 voltas ao redor do mundo e 1,5 viagem à Lua.
3 faculdades e 1 mestrado.
Incontáveis namorados.
2 matrículas no Município, 1 exoneração.
9 empregos.
836527488958727262 dúvidas.
0 certezas.
1 vida adulta inteira.
Me faltam medidas, termos leigos, não consigo fazer aproximações, mas o tempo me diz que passei os últimos 14 fucking anos sem você, mãe.
Mas eu não acredito nessa matemática. Ainda ontem conversamos sobre coisas da vida, lembra? Te falei dos meus sonhos, você me falou das suas esperanças para mim. Eu lembro, foi ontem: você me falou que ia ficar tudo bem, encostou seu nariz no meu, senti o cheiro da tua respiração, e novamente éramos apenas um, corações batendo em uníssono, num abraço tão terno que ainda sinto seu calor em minha pele.
E eu ainda sinto tudo, mãe. Quando a saudade dói muito forte, sinto seu cheiro numa lufada de ar. Quando preciso de um tapa de realidade, é a sua voz que ouço. Quem me afaga os cabelos nos sonhos, com suas mãos delicadas e fofinhas é sempre você. São 14 anos para os outros; para nós, o tempo parou. Eu sempre vou ter te visto pela última vez ontem, falado contigo ontem, recebido um beijo e uma bronca sua ontem. Vão passar 14, 24, 44 anos, mas o nosso último encontro sempre terá sido ontem. No meu ontem, que não se afasta da memória por esse covarde chamado tempo. Ontem, eu e você éramos nós. Ontem ainda estávamos juntas.
Amanhã vou ter a sua idade quando se foi, mas nossa relação permanecerá a mesma. Me sentarei no seu colo, no alto de meus 65 anos, e te beijarei o pescoço, e te farei cosquinha, e te direi que és a melhor mãe do mundo, a mais linda, a mais cheirosa, e te pedirei que nunca me abandone. E você continuará linda, cheirosa, com esse seu sorriso largo e olhos bondosos, afagando os cabelos da sua Betinha e prometendo que sim, estará comigo, como esteve ontem, e estará hoje, assim que o relógio bater meia-noite, e o presente se tornar apenas mais uma lembrança.
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