Robbie Jacks



"Essa vila do “8” nada mais é do que um pedaço do Inferno, especialmente preparado para receber seus hospedes, mortos e condenados no julgamento final. 

Dona Florinda e o Pro­fessor Girafales foram libertinos do porte do Marquês de Sade e Messalina (ou os próprios). Mestres na arte da luxúria, acabaram condenados a eternidade de abstinência sexual. Frigida e impotente, a mente almeja, mas o corpo não acompanha. Consomem infindáveis xícaras de café que, com propriedades estimulantes, alimentam ainda mais o fogo que não podem debelar. "

http://www.revistabula.com/768-pecados-demonios-e-tentacoes-em-chaves/

Poucas vezes vi um autor viajar tanto na maionese. E nem é ironia! Em seu texto, o colunista Ademir Luiz traça um paralelo entre as visões e descrições do inferno/purgatório através dos tempos com o seriado Chaves. CHAVES! Entendeu? Roberto Bolaños teria escrito um seriado perverso sobre um bando de almas condenadas a (con)viver num espaço diminuto, repetindo seus pecados "ad eternum", pois não haveria o conceito de tempo, ou redenção, na demoníaca vila.

Por favor, tirem um minutinho para ler o texto e voltem aqui para ler meu desabafo, sim?

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Passou o susto? Conseguiu tirar a imagem horrorosa da cabeça? Então vamos lá.

Podemos considerar como plausíveis suas teses? Sim. Dentro de sua própria lógica, o texto faz sentido. Oito personagens, sete pecados capitais, repetidos pela eternidade. O tempo que não passa, as referências dos elementos, é tudo possível, plausível, quiçá.

 No entanto, é ter muita maldade no coraçãozinho, especialmente hoje, dia em que o gênio criador dessa obra se foi, cogitar a ideia de que "Chaves" foi concebido de maneira tão crua e cruel por Roberto Bolaños. Ao mesmo tempo, por que não? Uma obra não termina com o ponto final do autor. É aí que ela ganha o mundo, e se enche e reenche de sentidos, sempre e continuamente. Dos mais simplórios aos mais elaborados, como nesse texto de Ademir Luiz.

Tenho poucas certezas na vida, mas disso eu sei: se formos tomar essa teoria como verdade, temos que aceitar também um Mestre dos Magos que é pai do Vingador e manteve as crianças, já mortas, sob a ilusão de que voltariam para casa; um Harry Potter praticante de wicca, desejoso de usar magia negra nos inimigos; uma Xuxa que fez pacto com o diabo e proferia frases satânicas nos discos tocados ao contrário e a profusão de pênis e sacanagens inseridas para desvirtuar meninos e meninas nos desenhos da Disney. Temos que aceitar que o mundo não é bão, Sebastião, e que tudo está intrinsecamente contaminado com o que há de mais sórdido na face da Terra: a estupidez humana.

Não, Ademir, prefiro crer que o seriado é tão inocente quanto apregoou seu criador, e que, se a América Latina está de luto hoje, é porque CHoram os corações entregues à fantasia criada por Bolaños.


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