Robbie Jacks

"Ponderação" é uma palavra que não existe na internet, né? Ou você está certo, ou o outro está errado. Não tem meio-termo. Aí chovem indiretas do tipo "se você pensa assim, você é um babaca" e "ai, quanta gente na minha timeline falando besteira". Eu também faço isso o tempo todo, tô fazendo isso agora, olha a ironia.
Mas é isso, né? Todo mundo tem opinião sobre tudo e agora, com esse trombone universal e formal, porque escrito, toda fala ganha ares de verdade incontestável, e todo locutor torna-se um potencial arauto do absoluto. Cansei por hoje.
É, eu tô reclamando de todo mundo que reclama de tudo. Tô paradoxa, tô hipócrita, tô Alanis Morrissete de saco cheio das opiniões. Tô desativando feeds. Malz aê.
E o que o cosplay de Santos Dumont tem a ver com isso? Nada. Só queria postar essa foto de um tempo em que eu ainda não estava enfadada. Mas talvez o SanDu tenha ouvido muita piadinha no tempo dele por acharem que os Wrights inventaram o avião antes dele. Tadinho. Te entendo, Dudu. Eu também ficaria boladíssima com essa galera de 1927.
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Robbie Jacks




Há algumas semanas, teve uma festa junina aqui no condomínio. Moro aqui desde que nasci, então a área comum sempre foi meu universo. Conhecia todo mundo, até quem vinha só passar as férias e, assim, sempre tive muitos amigos para conversar e brincar. Mas a gente vai envelhecendo, e às vezes perde a conexão com algumas coisas. Foi o que aconteceu comigo. Com o passar dos anos, o condomínio deixou de ser meu. Ele continua o mesmo, de certa forma: as crianças correm descalças, os adultos se cruzam a caminho do compromisso, os idosos juntam suas cadeirinhas na calçada para papear e esperar a noite cair. Mas os meus amigos se mudaram, e eu, sem querer, mudei: o condomínio não é mais o lugar que vivo, é apenas onde moro. Por isso, quando soube da festa junina, pensei duas vezes se deveria comparecer.

Pois eu fui, e foi muito agradável. Lá pelas tantas, uma vizinha já muito velhinha se aproxima e pega na minha mão. Lembro-me dela bem mais jovem, vendendo chicletes a 5 centavos e sacolés rechonchudos de coco. A qualquer hora do dia ou da noite, era só chamá-la embaixo de sua janela para ser agraciado pelos seus doces. Ela me conhece desde pequena, afinal de contas, minhas viagens ao seu apartamento eram frequentes. Além disso, ela conhece minha família, meus pais e talvez meu irmão, que chegaram ao condomínio bem antes de mim, mas não parecia me reconhecer por esse histórico.

Ao pegar na minha mão, ela abre um sorriso e pergunta: "você é a menina que todos os dias passa por mim e me dá boa tarde?". Fiquei confusa com a pergunta, e precisei de alguns segundos para decidir se era eu mesma. Sim, quando chego do trabalho, eu costumo cumprimentar o grupo de senhorinhas sentadas em suas cadeirinhas que papeiam e aguardam o anoitecer, mas nunca o fiz porque guardo uma simpatia que não me cabe no peito, e sim por educação. Às vezes, achava que as cumprimentava tão baixo e tão apressadamente que nem sequer dava tempo de registrar. Mas essa senhorinha estava prestando atenção, e mais: ansiava por aquele gesto toda vez que eu passava.

"Poxa, você não sabe como eu fico feliz quando você passa e cumprimenta a gente", ela terminou de dizer, e eu já estava em vias de passar vergonha com as lágrimas totalmente fora de contexto, mas fui detida por outra vergonha: a de mim mesma por executar tão mecanicamente um gesto que eu nunca pensei que pudesse fazer a diferença no dia de alguém.

É, a gente tem muito o que aprender com a terceira idade. Até eu, que tento tomar cuidado para não atropelá-los com minha juventude, tomo vários tapas na cara da realidade. A primeira coisa é enxergá-los sempre, respeitá-los, dar atenção. Dona Rosa, prometo que vou cumprimentá-la com ainda mais gosto daqui pra frente. Lição aprendida!
Robbie Jacks



Eu li: Michael and I, de Shana Mangatal. E daí?
Bom, primeiramente, gostaria de dizer que eu simpatizo com a Xana Manda Tal. Eu juro que não escrevi o nome da autora assim, foi o comando de voz do meu telefone, mas eu gostei, então taí.
E por que simpatizei com ela? Porque ela sou eu. Ela é você. Ela é doida como todo mundo que é fã pacas de alguém.
Vou contar pra vocês uma historinha. No ano passado, durante o show dos Backstreet Boys aqui no Rio, eu e meu macaquinho amarelo florescente fomos escolhidos durante o soundcheck para fazer uma pergunta aos meninos. Como eu sou tinhosa, a pergunta foi espinhenta. Como eles são casca-grossa, a resposta começou meio atravessada, e depois se tornou diplomática, e no fim eu já não ouvia mais nada. Estava inebriada com aqueles 5 pares de olhos em mim, enquanto o Kevão pedia silêncio pois “a Roberta queria falar”.
Passada a euforia, achei que tinha pegado pesado na pergunta, e ainda teria que encará-los no meet and greet sozinha. O nervosismo me fez ter um ataque de riso, e já cheguei apologizando pela pergunta malandrinha. Um a um, os meninos me garantiram que não havia nada de mais, que eu não atravessei nenhuma linha imaginária e que estava tudo bem. Tirei minha foto e me preparei para a despedida, mas tive um impulso (à la Roberta), virei para o Brian e disse “é, mas sua resposta me pareceu um pouco rude”. Tadinho do B-Rok! Ele arregalou os olhos, colocou as duas mãos sobre o peito e fez um OOO com a boca. “Não, eu jamais faria uma coisa dessas”, disse ele, ainda chocado. Dei um sorriso, disse que estava tudo bem e fui embora.
Na hora do show, eu não consegui ficar em um lugar decente na pista, então resolvi subir para o camarote. Fiquei bem de frente para o palco, mas lá em cima, bem longe de tudo. Não sei de que jeito, se foi o macaquinho amarelo brilhando no escuro, mas o Brian me achou, e passou o show inteiro mandando sinais para mim, imitando meus gestos, apontando para minha roupa.
Se você me perguntar, ele dedicou o show todo a mim. Se você perguntar a qualquer outra fã presente no show, é capaz de ela dizer que ele dedicou o show todo à ela. Eu tenho certeza de que as outras fãs se sentiram da mesma maneira como se os meninos tivesse falado só com elas. Esse é o poder de um ídolo: fazer com que a gente se sinta única.
E pra quê eu contei essa história enooorme? Porque eu acho que foi isso que aconteceu com a Xana. Ela era uma fã doida que começa perseguindo o Michael num hotel, para depois largar sua cidadezinha e se mudar para Los Angeles e arrumar um emprego de recepcionista na empresa que empresariava (empresa que empresariava?) o Michael. Daí, claro, toda vez que o Michael liga, a coitada acha que é para ela, e passa a anotar dia, hora e como foi a conversa. E começa a se achegar ao cara. Só que a doida é tão doida que passa o livro inteiro se agarrando aos “sinais” que recebe de que o Michael está apaixonado por ela. É o amigo que disse que o MJ perguntou por ela, é o “hello” no telefone que parece conter uma dúzia de insinuações sexuais, é o filho do amigo do vizinho que ouviu a tia da madrinha da cunhada dizer que o Michael achou ela linda. Ela bate nessa tecla o livro inteiro, dizendo que o mundo inteiro conspirava para que ela e o Michael ficassem juntos, creditando à sua beleza (que ela menciona ter sido notada por algum figurão dos anos 80 pelo menos uma vez por parágrafo) o fato de Hollywood lhe abrir às portas.
O livro é bem escrito, mas tem umas passagens estranhas. Xana conta que o MJ ligava para ditar músicas. É isso mesmo: ele ligava pra ela e dizia: “Gata, anota aí essa letra manera”. E ela anotava. E dizia que ele falava as palavras devagarinho, como se estivesse tirando prazer de cada uma. E mandava ela repetir. E ela repetia com a mesma sensualidade, enrolando as sílabas na língua. Uma das frases mais PICANTES, ela conta, estava em uma música que ele fez para A Família Addams. O trecho dizia “hard as nails” (duro como unha/prego), que também significa “alguém que não demonstra empatia”. E daí a bicha já fica toda excitada achando que MJ tá dando mole pra ela. E ela fica se agarrando à essa ponta de esperança por 20 anos. Vinte fucking anos!
E é por isso que eu creio em Shana. Ela é uma fã doida, do tipo stalker, que faz com que seus encontros com Michael pareçam “força do destino” quando, na verdade, ela deve ter dormido mal durante vinte fucking anos pensando em como chegar mais perto do Rei. Ela foi a namorada que o Michael nunca teve, pq o relacionamento só existiu com essa intensidade toda na cabeça dela. Mas não é por isso que o relato dela não é real, né? Cada louco com sua verdade. Uma coisa ela realmente conseguiu: acompanhar a Dangerous e a History dos bastidores, de camarote. Mas não: não há nenhuma foto da Shana com o Michael além daquela oficial. Nenhuma selfie, nenhuma foto dele nu, de costas, tirada sorrateiramente enquanto ele levantava da cama para tirar água do joelho, NADA. Tem uns souvenirs de Neverland, mas isso até eu poderia ter tido, se fosse rica, norte-americana e tivesse nascido Kardashian.
Ela se acha mais indispensável na vida dele do que realmente foi. Não tem uma passagem em que o Michael peça ajuda dela diretamente, mas ela se acha completamente responsável por sua integridade e paz de espírito. Diz pra mim se isso é ou não é coisa de fã enlouquecida? È como quando estamos em um relacionamento com alguém incrível e, de repente, descobrimos que o babaca tem um caso extraconjugal há anos, com filhos e tudo. Xana axava que sabia tudo o que se havia para saber sobre Michael e, por isso, achava que o conhecia, conhecia seus hábitos e humores. Mas ela não sabia de porra nenhuma. Ela foi surpreendida com o casamento com a Lisa Marie e o nascimento dos filhos, e ainda assim não se tocou de que jamais significaria nada para o Michael, que preferia até a companhia de criancinhas do que a dela. Xana foi a eterna corna de um relacionamento imaginário, e nem assim ela acordou para a vida.
Não vou dizer que ela não teve um relacionamento mais íntimo com Michael. Aliás, se você ler o livro, vai até acreditar que ela foi, sim, pra cama com o cara, porque é tão patético quando chega o momento (depois de 7 fucking years) que dá vontade de falar “vem cá, mana, ele só quer te comer”. Ela tinha 26 anos e era VIRGEM, for crying out loud! Nem beijo na boca a bicha havia dado, a não ser que você conte o tal selinho na van preta do MJ num dia aleatório em que ela diz que ele pediu que ela descesse do escritório rapidinho. Até a descrição do beijo é boba, como aqueles selinhos que você dá no amiguinho de escola aos 5 anos. A bichinha está enrolada até o pescoço nessa fantasia, e acredito que ainda esteja, pois ela ainda crê que, se tivesse ido ao Staples Center antes, como sua “amiga” Grace (Nicole) queria, ela o teria salvo das mãos do Conrad Murray que, aliás, ela nem cita no livro.
Enfim, a Xana fala muito sobre o Michael ser uma criança grande, mas acho que quem não cresceu foi ela. Alienada desde seu primeiro contato com o Michael, fazendo a groupie no hotel em que ele estava, até o funeral em que ela se senta na fila de trás e vê os Jacksons unidos e se sente “parte” da família, a vida de Xana Manda Tal é um eterno conto de fadas. Pelo visto, sem final feliz.
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