Robbie Jacks



Eu achei que Tanta Coisa...

Eu achei que o destino mudaria minha vida outra vez. Achei que, no meio da multidão, iríamos nos esbarrar.

Achei que o telefone ia tocar, que o carteiro ia me chamar, que as amigas iam me alertar: ele mandou lembranças.

Achei que, num arroubo de saudades, você ia aparecer nos lugares que frequentávamos juntos.

Achei que, mesmo se eu não fizesse nada, as coisas voltariam a ser como antes.

Achei que, se eu continuasse fantasiando, meus sonhos virariam realidade.

Achei que o cheiro do seu perfume que senti naquela praça era um indício de você.

Posso ligar a TV agora e ouvir do locutor do jornal o nome que me remete a doces lembranças e amargas memórias. Ouvi deles seu nome, seu lugar, não uma, nem duas ou três vezes, mas exatamente cinquenta e três, desde que sua ausência se tornou insuportável. Achei que era minha alma a te convocar, já que minha boca ainda se recusa a falar seu nome.

Abri meu armário e caiu um pedaço de nosso coração, que compramos juntos naquela lojinha metida à besta, lembra? E eu achei que era um sinal.

Consultei cartas do tarô, oráculos, horóscopos, e até minha prima vidente, somente para a unanimidade me fazer achar que éramos almas gêmeas, que nossos caminhos estavam praticamente trançados um no outro. Achei que era para ser.

E eu, no meu afã de delirar, achei que todo esse aperto no peito que sinto era punição suficiente, que Deus ia ter pena de mim. Achei que minha saudade era o bastante para reparar os danos, cruzar oceanos, construir pontes. Mas o amor não é unilateral.

Indignada, porém resignada, tentei minha última cartada e me fechei. Achei que o silêncio curava. Mas está doendo ainda mais.



Robbie Jacks



Covarde.

Não há nada pior do que acordar e descobrir que a sua vida mudou. E que você não teve parte ativa nisso.

As mudanças mais intensas acontecem assim, não? Você está lá, tomando seu Nescau de manhã, com o olho ainda cheio de remela e, de repente, uma Grande Mudança arromba a porta da sua casa e te toma de assalto. Dá até para ouvir a onomatopéia.


E ela se vai sem nem ter a gentileza de deixar uma lembrancinha agradável.


Covarde e mentiroso.

Tudo o que você era, ou melhor, que o mundo achava que você era, destruído por uma atitude impulsiva e infantil. Onde estão as estrelas nos olhos? Morreram afogadas no mar da indiferença? Ou caíram no buraco-negro da falsidade, e saíram do outro lado, para formar uma nova constelação?


Covarde, mentiroso e sádico.

Não vou satisfazer seu ego ordinário com ilustrações de minha mente altamente fecunda e traiçoeira. Me recuso a pensar em você, exceto neste minuto em que escrevo este texto. Todos os outros serão dedicados à minha pessoa, e meu prazer. Mas não fique triste: a não-reação também é uma reação. Pegou a pipoca? Está pronto para o espetáculo? Desculpe, não tem função hoje. Que te baste isto que faço agora: a formalização de meu choque.

O que as palavras não conseguirão jamais colorir, no entanto, é a dimensão da decepção. Para quem sustenta ilusões, a verdade pode atingir como o impacto de um trem que viaja a toda força. Ironicamente, o fim de qualquer esperança de reconciliação é, de certa forma, reconfortante. Porque o fim de uma coisa sempre representa o começo de outra. E eu, como gentil refém deste loop, me sinto de volta ao meu aconchego. Recomeço.


Covarde, mentiroso, sádico e babaca.

É consenso geral, atestado pelos melhores institutos de pesquisa, que sua popularidade caiu entre meu povo. Que venham os chavões, aos borbotões. Conheço-os pelo nome, e enumero-os antes de completar a chamada.
Não era para ser? Perdi meu tempo achando que fosse.
Vou arrumar outro melhor? Bom, pior do que estava não dá para ficar.
Ele não me merece? Hell, no!
Foi melhor assim? Eu sei lá.

Recomeçar. Ontem eu dizia "ainda não". Preferi curtir o fim. Perdi uns bons dias lamentando o ciclo fechado, em luto pelo relacionamento morto. Agora, reaprendo a engatinhar, ainda sem a tal vantagem que os 28 anos de batalha supostamente outorgam aos sobreviventes das intempéries amorosas.

E assim vamos nós, eu e sina que o nome deste blog me faz carregar. E quer saber? Nem está doendo tanto assim.
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