Hoje é seu aniversário, mas fui eu que ganhei o presente. Antes mesmo que eu me desse conta de que o 5 de janeiro estava ali na esquina, você veio acalentar meu sono. Dormimos juntas como fazíamos quando eu era pequena, seu rosto colado no meu, sua voz me embalando, suas mãos fazendo carinho nos meus cabelos, e pude sentir seu cheiro e seu calor novamente, mãe. Não lembro da nossa conversa, mas pouco me importa. Eu costumava te chamar demais nos meus sonhos, lembra? Foi você que me ensinou: "Se estiver tendo um pesadelo, pede que a mamãe aparece". E assim foi durante muito tempo, até eu conseguir aceitar que você não estava mais aqui, e que não era justo precisar tanto de você.
Às vezes me pergunto como tenho conseguido viver sem guia, sem bússola, sem a única pessoa que me amou mais do que a si mesma, mas a resposta não é difícil: você me ensinou a ser independente, e herdei de você esse jeito meio blasé de encarar as dificuldades do mundo.
Lembro quando você me ensinou a fazer meu próprio Nescau. Eu tinha o quê, 6, 7 anos? Eu não queria aprender, assim como também não queria aprender a ir à escola sozinha, já com 11 anos, e nem ir até aquela loja de discos em Madureira para comprar o LP de BAD aos 12, mas você bateu o pé que não ia comigo, me explicou como chegar na loja e até fez um mapa, que eu guardo até hoje. Viu? Você sempre me quis independente, mas eu dependo até das coisas que você deixou pra trás.
Eu também não queria aprender a viver sozinha aos 22, quando você me deixou de vez, mas você me obrigou. Mas obrigada. Foi difícil no começo, mas vejo gente pior por aí, gente que definha de saudade, que não se reconstrói, não anda nunca. Você me mandou ir e eu fui, e continuarei indo. Você me chamava de rebelde, mas nunca desobedeci uma ordem sua. E isso me fez forte.
Quando todos comemoram o Dia das Mães, não fico amuada, querendo que o dia acabe. Quando o dia de seu falecimento se aproxima, não esmoreço. Graças a alguma força magnética do cosmos, não ter minha mãe é péssimo, mas não é um peso, uma mágoa no coração. Acho que fui me acostumando a não ter você, embora a saudade transborde quase que frequentemente. Nada que um bom choro não alivie.
Não tem como esquecer o seu olhar, sua risada cheia, seu colo fofinho, seus cabelos enrolados com o "brown", suas unhas grandes e sempre bem pintadas pela "pinteira" que vinha aqui em casa, sua comida deliciosa de sábado e domingo e seu copo de café sempre ao lado do cinzeiro. Queria conseguir lembrar mais das coisas que fizemos juntas, mas minha memória não ajuda. Queria ter tido uma penseira para guardar todos os nossos momentos, mas acho que isso só aumentaria a saudade. Às vezes eu forço para lembrar de algo novo, ver se surge um flash qualquer, mas logo desisto. Se eu não lembro, é porque não é para lembrar, você também me ensinou. A imagem da minha infância e adolescência já é maravilhosa só com os muitos traços seus e as poucas imagens nossas que me recordo.
Ah, mãezinha, eu sinto tanto a sua falta! Tudo o que eu faço, penso em como você reagiria. Será que teria orgulho? Puxaria minha orelha? Me olharia daquele jeito que diz "estou desapontada com você"? Repito na cabeça as frases que você costumava usar, comparo as situações atuais com alguma coisa que vivemos no passado para usar sua reação como base. Você é e sempre será a voz que grita "pára de palhaçada, Roberta" no meu ouvido. Você é a pessoa mais sensata e sem frescuras que eu já conheci na vida, e isso faz uma falta tremenda para quem é a rainha do drama como eu.
Embora eu já não tenha seus conselhos por aqui, me sinto mais protegida com você aí, de certa forma. Sei que tenho uma aliada no outro mundo e, por mais difícil que a vida esteja do lado de cá, por mais que eu queira morrer ou matar, e às vezes me sufoque por não ter a quem recorrer, é no próprio silêncio que encontro a serenidade, pois é nele que ouço sua voz acalmando meu coração. Não quero dizer inverdades neste texto; não vou exagerar nos sinais que recebo nem inventar comunicações que não existem. Esse texto é só de nós duas, mãe e filha, de mim pra você e, enquanto as lágrimas caem com força aqui, não por tristeza, mas pelo tamanho da emoção que sinto ao falar com você, quero que saiba que eu não tenho mais medo. Quer dizer, ainda tenho alguns receios, algumas ansiedades, mas não tenho mais medo. Nem de você aí, nem de mim aqui. Ter você por perto, mesmo com essa barreira invisível que nos separa, não torna a vida mais fácil, mas me dá mais coragem para enfrentá-la. Vai dar tudo certo, né?...
Mãezinha, minha força, meu carinho, obrigada por ainda se importar comigo. Me desculpe se não acendo velas suficientes, se não conversamos como antigamente, se às vezes esqueço de rezar pra você. Não tem um dia que você não esteja em meus pensamentos. Espero que você esteja do outro lado pensando em mim, me protegendo, intercedendo a meu favor. Só Deus sabe o quanto preciso desse empurrãozinho divino. Pede pra Ele ter paciência comigo, tá? Te amo mais do que a minha vida, e eu a entregaria sem pestanejar para poder te abraçar de novo. Mas não deve ser isso que você quer, né? Espero que esteja no hospital para ver o nascimento de seus netinhos e, se eu ficar debilitada como você ficou quando nasci, faça como o espírito do vovô, entre no meu quarto e sussurre no meu ouvido: "Minha neta é perfeita!"
Às vezes me pergunto como tenho conseguido viver sem guia, sem bússola, sem a única pessoa que me amou mais do que a si mesma, mas a resposta não é difícil: você me ensinou a ser independente, e herdei de você esse jeito meio blasé de encarar as dificuldades do mundo.
Lembro quando você me ensinou a fazer meu próprio Nescau. Eu tinha o quê, 6, 7 anos? Eu não queria aprender, assim como também não queria aprender a ir à escola sozinha, já com 11 anos, e nem ir até aquela loja de discos em Madureira para comprar o LP de BAD aos 12, mas você bateu o pé que não ia comigo, me explicou como chegar na loja e até fez um mapa, que eu guardo até hoje. Viu? Você sempre me quis independente, mas eu dependo até das coisas que você deixou pra trás.
Eu também não queria aprender a viver sozinha aos 22, quando você me deixou de vez, mas você me obrigou. Mas obrigada. Foi difícil no começo, mas vejo gente pior por aí, gente que definha de saudade, que não se reconstrói, não anda nunca. Você me mandou ir e eu fui, e continuarei indo. Você me chamava de rebelde, mas nunca desobedeci uma ordem sua. E isso me fez forte.
Quando todos comemoram o Dia das Mães, não fico amuada, querendo que o dia acabe. Quando o dia de seu falecimento se aproxima, não esmoreço. Graças a alguma força magnética do cosmos, não ter minha mãe é péssimo, mas não é um peso, uma mágoa no coração. Acho que fui me acostumando a não ter você, embora a saudade transborde quase que frequentemente. Nada que um bom choro não alivie.
Não tem como esquecer o seu olhar, sua risada cheia, seu colo fofinho, seus cabelos enrolados com o "brown", suas unhas grandes e sempre bem pintadas pela "pinteira" que vinha aqui em casa, sua comida deliciosa de sábado e domingo e seu copo de café sempre ao lado do cinzeiro. Queria conseguir lembrar mais das coisas que fizemos juntas, mas minha memória não ajuda. Queria ter tido uma penseira para guardar todos os nossos momentos, mas acho que isso só aumentaria a saudade. Às vezes eu forço para lembrar de algo novo, ver se surge um flash qualquer, mas logo desisto. Se eu não lembro, é porque não é para lembrar, você também me ensinou. A imagem da minha infância e adolescência já é maravilhosa só com os muitos traços seus e as poucas imagens nossas que me recordo.
Ah, mãezinha, eu sinto tanto a sua falta! Tudo o que eu faço, penso em como você reagiria. Será que teria orgulho? Puxaria minha orelha? Me olharia daquele jeito que diz "estou desapontada com você"? Repito na cabeça as frases que você costumava usar, comparo as situações atuais com alguma coisa que vivemos no passado para usar sua reação como base. Você é e sempre será a voz que grita "pára de palhaçada, Roberta" no meu ouvido. Você é a pessoa mais sensata e sem frescuras que eu já conheci na vida, e isso faz uma falta tremenda para quem é a rainha do drama como eu.
Embora eu já não tenha seus conselhos por aqui, me sinto mais protegida com você aí, de certa forma. Sei que tenho uma aliada no outro mundo e, por mais difícil que a vida esteja do lado de cá, por mais que eu queira morrer ou matar, e às vezes me sufoque por não ter a quem recorrer, é no próprio silêncio que encontro a serenidade, pois é nele que ouço sua voz acalmando meu coração. Não quero dizer inverdades neste texto; não vou exagerar nos sinais que recebo nem inventar comunicações que não existem. Esse texto é só de nós duas, mãe e filha, de mim pra você e, enquanto as lágrimas caem com força aqui, não por tristeza, mas pelo tamanho da emoção que sinto ao falar com você, quero que saiba que eu não tenho mais medo. Quer dizer, ainda tenho alguns receios, algumas ansiedades, mas não tenho mais medo. Nem de você aí, nem de mim aqui. Ter você por perto, mesmo com essa barreira invisível que nos separa, não torna a vida mais fácil, mas me dá mais coragem para enfrentá-la. Vai dar tudo certo, né?...
Mãezinha, minha força, meu carinho, obrigada por ainda se importar comigo. Me desculpe se não acendo velas suficientes, se não conversamos como antigamente, se às vezes esqueço de rezar pra você. Não tem um dia que você não esteja em meus pensamentos. Espero que você esteja do outro lado pensando em mim, me protegendo, intercedendo a meu favor. Só Deus sabe o quanto preciso desse empurrãozinho divino. Pede pra Ele ter paciência comigo, tá? Te amo mais do que a minha vida, e eu a entregaria sem pestanejar para poder te abraçar de novo. Mas não deve ser isso que você quer, né? Espero que esteja no hospital para ver o nascimento de seus netinhos e, se eu ficar debilitada como você ficou quando nasci, faça como o espírito do vovô, entre no meu quarto e sussurre no meu ouvido: "Minha neta é perfeita!"