As lágrimas começaram discretas. Sempre de olhos fechados, a moça, com o cenho franzido, parecia concentrar-se em algo muito importante que acontecia lá dentro dela. De repente, uma lágrima escapou pelos claros cílios do olho direito. Diante da incapacidade de controlá-la, a moça pareceu desabar por completo.
Peguei-a, ainda seca, na estação Carioca. Na Central, sua blusa já aparava os pingos de uma torrente que parecia não ter fim. Até os passageiros mais distraídos, com seus joguinhos de celular e fones de ouvido, já tinham percebido a aflição da moça, e nos entreolhávamos com o mesmo ponto de interrogação na testa: o que fazer?
Nada, foi o que fizemos. Aquela moça estava tão dentro dela mesma que, durante todo o percurso, permaneceu de olhos fechados. Parava, respirava, tentava se recompor enxugando as lágrimas, mas logo caíam outras. Nem quando o metrô deu um solavanco forte e um engraçadinho soltou a clássica "o motorista ajeitou a lata de sardinha!": nem assim ela abriu os olhos.
Se abrisse, me veria, de pé, bolsa a tiracolo, fones no ouvido, ignorando completamente a música e olhando-a com tristeza. A minha curiosidade fora substituída por lembranças de quando eu mesma, ignorando o mundo à volta, debulhava minhas próprias angústias em ônibus, metrôs, no banco de trás do táxi, no meio da rua. Sempre a mesma sensação de desespero, como se a dor não pudesse esperar um banheiro, um ombro, minha casa: as lágrimas vinham quentes, sofridas, abundantes, sem se importar com a maquiagem ou os estranhos olhando. É a angústia mais solitária que se pode sentir.
Ela devia estar ansiosa para chegar ao seu destino e resolver seu problema, ou ouvir uma palavra amiga, ou apenas chorar mais um pouco no colo daqueles que ama. Sei bem como é isso. Saltei em Del Castilho e deixei-a lá, encharcada pelos seus pensamentos, e senti um pequeno alívio no peito por saber que, pelo menos hoje, não é a minha vez.