Why so curious?
Robbie Jacks
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
O dia amanheceu, abri os olhos, me espreguicei, olhei em volta, tudo normal.
Me levantei, escovei meus dentes (embora não saiba por que diabos as pessoas escovam os dentes ANTES de comer, mas enfim...) escovei meus dentes, fiz meu café, abri o jornal. Tudo igual.
Senti falta de algo. Quer dizer, falta não era bem a palavra, mas eu sabia que algo estava ausente. Tudo normal, tudo igual, só que gostoso, diferente do cinza-bolor de ontem (mas eu não havia percebido isso).
Continuei meu dia e experimentei sensações há muito esquecidas. Havia um novo sabor no arroz do almoço, ou talvez o velho sabor de volta. A programação da televisão, desta vez, estava muito mais agradável. Ouvi o canto dos pássaros, por mais piegas que possa parecer, e me perguntei por que os pássaros se silenciaram por tanto tempo.
Aquele sábado estava anormalmente leve. Como acometida por uma súbita amnésia, ou talvez meus sentidos estivessem mais, digamos, sensíveis, tudo me parecia confortavelmente familiar, como se estivesse voltado para casa depois de uma longa e cansativa viagem.
De repente, como vítima de transe, uma palavra me fez sentir novamente o que estivera felizmente ausente naquele sábado diferente. A dor, aquela que tanto me apertou, que me jogou para o fundo do ralo do fundo do poço, não estava mais lá. Depois de me triturar com suas garras feitas de lembranças e sentimentos doentios, ela se tornou uma ingrata companheira, uma dedão inchado que cismava de pulsar dolorosamente cada vez que encostado. Eu, infeliz hospedeira dessa dor malvinda, me acostumei a carregá-la comigo, e ela fazia questão de sugar cores, cheiros e sabores da minha vida.
No dia em que acordei e ela não estava mais lá não houve comemoração, fogos de artifício ou champagne para estourar. Houve apenas a certeza de que sou muito mais forte do que jamais pude imaginar e a constatação de que, realmente, tudo vai passar. O fim mais feliz é o que encerra a escuridão. E veio o amanhecer, com seu novo Recomeço.
Robbie Jacks
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
"I promise you kid, I'll give so much more than I can get
I just haven't met you yet"
Dessa, ninguém escapa. Longa, penosa, sofrida. Todos a rejeitamos, todos a recebemos. Não há saída.
Não adianta cruzar os braços, fazer bico, abrir o berreiro. Eu, você, seu vizinho barulhento: todos nos renderemos à ela. Dizer que não quer, que não aceita, também não adianta. Simplesmente não funciona. Mais cedo ou mais tarde, todos seremos obrigados a pegar nossos banquinhos e sentarmos lá com a Cláudia.
Quem vive, espera por definição. Não dá pra fugir. Pense na alternativa. Só há uma. E ela é muito, digamos, "final", se é que você me entende.
É desesperador no começo, desolador no meio, e entediante no final. Pois a espera só acaba quando você pára de pensar nela. Note bem: você nunca deixa de esperar- você apenas se acostuma a esperar, entra no piloto automático da vida. Esta é a pior maneira de viver, mas fazer o quê? Este é o estado conformador da espera, também não dá para escapar.
Então posso sugerir? Olhe pela janela e aprecie a paisagem, ou leia um bom livro. Quer você definhe por causa dela, quer você se distraia, ela não está nem aí. Porque a espera simplesmente não tem pena de suas vítimas. Mas pode ter certeza: um dia, ela acaba. Seja pela morte dela ou pela sua mesmo.
Robbie Jacks
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Existem certas Coisas
As quais não podemos ver
Eu gostaria de dizer para elas
Que eu as sinto.
E talvez as sinta mais
Por não poder vê-las
Elas me metem mais medo
Pois só posso imaginá-las.
Pois só posso imaginá-las.
Nem a grandeza
Nem a simplicidade:
Seu tamanho, cor, forma,
Cheiro, textura, periculosidade
São criados pela minha própria mente
Tudo fica escuro de repente
E não vejo nada
Além de meus próprios fantasmas.
Será que é assim com todo mundo?
Você tem medo do que não pode ver?
Você quer ver o que não deveria ver?
E, se vê, desejou nunca ter visto?
Às Coisas Que Não Posso Ver
Mando um breve aviso
Vocês são piores do que imagino, eu sei
É sempre assim, eu sei que são
Portanto, fiquem escondidas
Não quero saber de vocês
E quero menos ainda que saibam de mim
Ouvi dizer
Que o essencial é invisível aos olhos
Mas não deveria jamais ser.
Pois os olhos que de fato enxergam a essência
São sensíveis demais
Descobrem detalhes ínfimos
Magoam-se com a mais leve vibração contrária
Ferem-se com a mais sutil das insinuações
Completam o quadro com férteis delírios
Conjuram meu pior pesadelo.
E tudo aquilo que você não deveria ver
Ele inventa
Em tudo aquilo que você não deveria sentir
Ele te sufoca
Mesmo que os olhos estejam vendados
Mesmo que o corpo esteja cansado
Eu vejo,
Sinto,
Invento,
Dói.
Robbie Jacks
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Que espécie de espírito tacanho se apossa dos céus ao promover o encontro entre duas pessoas tão gastas da vida?
Ela chegou com um estrondo. Nervosa, quase animada, vigiava o relógio da estação, e não via a hora de embarcar. Em suas costas, carregava uma mochila sem grandes atrativos, a não ser pelo volume que contrastava com seu torso esguio. Redondinha, a mochila parecia lotada, o zíper quase não fechava, mas ela a carregava com tanta facilidade que podia-se jurar que continha nada mais que tufos e mais tufos de algodão.
Ele chegou manso, murcho, não por uma atitude soturna pensada, mas pelo peso de sua mala gigante, sóbria e marrom, dessas que se vê em filmes de 1930. Com um esforço contínuo e meticuloso, caminhava a passos lentos, quase como se não quisesse andar, ou se achasse inútil gastar seus passos com aquele peso todo o segurando.
Distraída pela ansiedade e pela procura do exato ponto onde embarcaria, ela não viu o trambolho marrom em seu caminho, segurado pelo menino do semblante triste. Um tropeção, um palavrão, mil desculpas, e uma mão que quase larga a mala gigante: foi o que bastou para abrir um sorriso no rosto dos dois.
Mas não era para ter acontecido. Quer seu ônibus tivesse atrasado só um pouquinho, ou o catchup do sanduíche sujado sua blusa, não estariam ali, cara a cara, ou melhor, sorriso a sorriso, descobrindo-se cada vez mais iguais.
Ah, o destino! Esse, que brinca com as nossas vidas e nos faz acreditar que, enfim, o calvário terminará, ou talvez, a nuvem se dissipe e dê praia no domingo... Ele também é responsável direto pelas maiores charadas e decepções sobre a face da Terra.
À medida que se conheciam, cada vez mais nossos jovens e intrépidos amigos se perdiam. Ele, que quase largou a mala (e esse quase é de extrema importância para esta história, prestem atenção!), percebeu que, passado o momento de euforia, não conseguia mais soltá-la. Desistiu de tentar. Arrastou a bagagem marrom-cocô para frente de si, criando uma muralha que intimidou a mocinha da mochila.
Ela notou seu olhar cansado, suas mãos que pareciam calejadas da vida. Era tão novo, meu Deus, por onde andara esse menino? Embora seu falar fosse otimista, notou que lhe faltava o entusiasmo na voz, o viço da ingenuidade não transparecia mais em sua pele. Tinha visto muita coisa, concluiu ela, seria possível recomeçar?
Neste momento, a menina amaldiçoou sua sorte. Por que lhe cruzaria o caminho justamente um homem com uma estrada mais longa que a dela, um ex-prisioneiro de guerra recheado de cicatrizes e coberto de pele dura feito couro de jacaré?
Sua mochila começou a pesar. Não queria que sua trouxa se apercebesse do que sentia, supôs que poderia viajar sem lhe dispensar atenção. Mas, como um ser subitamente animado, a mochila começava a lhe derrubar os ombros, fazendo-se notar, puxando-a para baixo. Pediu licença ao moço, que já nem parecia notá-la pois, absorto em seu próprio ponto de partida, alisava uma fina linha dourada que o ligava à mala. Sentou-se num dos bancos do terminal, respirou fundo, despiu-se da mochila e a abriu.
Estava tudo ali. Nada de novo, apenas todas as coisas que não podia deixar para trás, e mesmo assim se surpreendeu. Seu coração gemeu como um torturado que se apercebe da volta de seu algoz. Tudo tão bem embalado, separado, guardado na esperança de nunca mais ser revisitado ali, aberto novamente, pulsando, vermelho-vivo. O medo da nova jornada a fez se apegar à mochila ainda mais.
O apito soou. A hora havia chegado. Levantou-se com dificuldade, colocou a mochila nas costas. Agora pesava demais. É, ainda não conseguiria deixá-la para trás. Olhou para o carinha do malão marrom. Ele também ouvira o apito, e parecia não saber se embarcava ou não no trem. Olhava para o trem e para a mala, como na escolha de Sofia. Quis dizer-lhe que não precisava se decidir naquele momento, olha, eu também levo minha mochila, não fique assim, vai que, no meio da viagem, arrumemos coragem para jogá-las pela janela, eu jogo a minha e você joga a sua, que tal?
Mas ela nada disse. Embarcou no trem, escolheu um camarote perto da porta e acomodou sua mochila no bagageiro. Enquanto aguardava o último sinal, colocou mais uma vez nas mãos do acaso o seu futuro, esperando com todas as forças que o destino se encarregasse de fazê-lo entrar na cabine com ela, para que juntos iniciassem o que esperava ser uma longa e feliz viagem.
Robbie Jacks
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
If I still had feelings
I'd be lying in this bed
As the sun begins to rise
Thinking about us.
If I still had feelings
I'd pretend you never left
And you'd be right here next to me
Lying in this very bed.
All the immensity of the sky
Wouldn't remind me of us
Holding each other and planning
On how many more cloud animals
We would be making up
Together.
If I still had any feelings
He wouldn't be in my thoughts
Although he's finding a little difficult
To settle in my heart.
I wish it was different
I wish this (we?) could be true
But it's hard to be honest
When I don't have any feelings for you.
There's this constant
Ache in my heart
Of a thought I usually get
It's a glimpse of your happy life
(and I'm not in it)
And you're so oblivious to the fact
That I no longer
Care.
Fantasies are never enough
Though now I miss them all
For they fulfilled my world
Since I can no longer feel it.
It's hard to be separated
From the one you thought you loved
It gets harder some nights
But days aren't any easier either
This is everything one would feel
If there were any feelings left.
As I leave for new arms
New promises, new tastes
A new body and new face
I keep thinking about how
Unfair life really is
To not grant one's wish
But to replace it with a new one
And make you think it's all OK
Because you just can't feel a damn thing
Anymore.
por Robbie Jacks