Eu achei que Tanta Coisa...
Eu achei que o destino mudaria minha vida outra vez. Achei que, no meio da multidão, iríamos nos esbarrar.
Achei que o telefone ia tocar, que o carteiro ia me chamar, que as amigas iam me alertar: ele mandou lembranças.
Achei que, num arroubo de saudades, você ia aparecer nos lugares que frequentávamos juntos.
Achei que, mesmo se eu não fizesse nada, as coisas voltariam a ser como antes.
Achei que, se eu continuasse fantasiando, meus sonhos virariam realidade.
Achei que o cheiro do seu perfume que senti naquela praça era um indício de você.
Posso ligar a TV agora e ouvir do locutor do jornal o nome que me remete a doces lembranças e amargas memórias. Ouvi deles seu nome, seu lugar, não uma, nem duas ou três vezes, mas exatamente cinquenta e três, desde que sua ausência se tornou insuportável. Achei que era minha alma a te convocar, já que minha boca ainda se recusa a falar seu nome.
Abri meu armário e caiu um pedaço de nosso coração, que compramos juntos naquela lojinha metida à besta, lembra? E eu achei que era um sinal.
Consultei cartas do tarô, oráculos, horóscopos, e até minha prima vidente, somente para a unanimidade me fazer achar que éramos almas gêmeas, que nossos caminhos estavam praticamente trançados um no outro. Achei que era para ser.
E eu, no meu afã de delirar, achei que todo esse aperto no peito que sinto era punição suficiente, que Deus ia ter pena de mim. Achei que minha saudade era o bastante para reparar os danos, cruzar oceanos, construir pontes. Mas o amor não é unilateral.
Indignada, porém resignada, tentei minha última cartada e me fechei. Achei que o silêncio curava. Mas está doendo ainda mais.