Posso dizer que sou uma pessoa de sorte. Às vezes, quando algo ruim acontece, sei que a culpa é minha. Se as coisas não ficam piores, é por causa desse anjinho que tenho ao meu lado, que deve estar de saco cheio das minhas artes. Mas é que eu sou brasileira, e bem lerdinha de vez em quando.
Um urubu pousou na minha sorte naquele dia. Se ele tivesse feito ninho nela, eu não estaria aqui para contar a história. Sexta série, prova de matemática: eu, toda calma, fui à pé para a escola, carregando apenas o estojo. Como ser atrasada faz parte do meu charme, cheguei lá em cima da hora da prova. E olha minha surpresa: fui barrada no portão pela inspetora! Motivo? Esqueci a carteirinha da escola em casa!
Daí pra frente a memória embaça: só lembro que eu, no auge da minha nerdice, corri que nem louca para casa, desafiei as leis da física (e de trânsito) para pegar a bendita carteira. Cheguei em casa esbaforida, e voltei mais esbaforida ainda para a escola. Perdi a prova, e ainda encontrei minha mãe lá desesperada: alguém a informou que eu quase fui atropelada por um carro preto. Sinceramente? Eu não vi carro nenhum. Aliás, nem lembro como cheguei na escola. Só lembro da minha mãe falando: "e por que você não falou para a inspetora que você é minha filha? Não precisava ter voltado em casa!" Sim, meus queridos, minha mãe era professora da escola onde eu estudava. E eu pude fazer a prova outro dia.
Viu que sorte a minha?