Aos 12 anos, meu passatempo preferido era brincar de boneca. Não falo daquelas bonecas-bebezinhas, que voce finge dar comidinha, aplica injeções de mentirinha e ralha com ela igual sua mãe fazia com você. Meu negócio eram as Barbies, os Kens e as Susies da vida. Todos os dias, era lei invadir a cama da minha mãe, espalhar meus brinquedos na cama e montar a "mansão" da Jaqueline, minha Barbie mais bonita. E Manoel Carlos que se cuidasse: um dia ela era a empregada que se apaixonava pelo filho do patrão; no outro, a madrasta que tinha um caso de amor tórrido com o enfermeiro do marido tetraplégico. Romance, aos meus 12 anos, era assim-- duravam um dia, eram cheios de reviravoltas, mas sempre terminavam com um final feliz. Tudo ia bem no reino da minha imaginação.
Aí, semana passada, sofri um baque da realidade. Junto com Eloá, a menina feita refém pelo namorado insandecido, me veio a pergunta: será que sempre foi assim? Fiquei com pena da menina Eloá. A menina que, aos 15 anos, ficou entre a vida e a morte por conta de um relacionamento que nem eu, na idade que tenho hoje, conseguiria entender. A menina que, aos 12 anos, quis viver as fantasias que povoavam sua cabeça, românticas e juvenis. A menina que queria ser adulta foi namorar um homem feito, e não se deu conta que não só a sua infância foi interrompida, mas também qualquer chance de futuro.